O Jornal O Fluminense era o maior veículo de comunicação do antigo Estado do Rio de Janeiro, com sucursais em várias cidades, cadernos especiais e muitos eventos. Na direção, o elegante Alberto Torres, e, no comando geral, Ephrem Amora, Superintendente da Empresa, um trator de trabalho com uma visão moderna de empreendedorismo. Na realidade, foi ele quem transformou o veículo num jornal moderno e com novas tecnologias, com cadernos especiais e sucursais em todas regiões do Estado.

Trabalhava na Redação de O Fluminense e com Ephrem Amora. Acompanhei da Redação e da Sala do Ephrem todo o desdobramento, as decisões e tensionamentos com a criação da Rádio Maldita.

Foi num desses repentes que, lá na sala, que chegaram dois jovens propondo a Ephrem Amora a criação de um programa de Rock na Rádio Fluminense. A decepção dos dois pela não aprovação do programa e depois a decisão de Ephrem de entregar a rádio aos dois jovens Luis Antonio Mello e Samuel Wainer Filho (Samuquinha), filho do poderoso dono do jornal Última Hora, Samuel Wainer. “Vocês vão tomar conta da Rádio!”, disse Ephrem, na ocasião.
Pouco tempo depois surgiu a Rádio Maldita, sob o comando de Luis Antonio Mello, porque Samuca não quis continuar na empreitada. Entre as novidades mais significativas, fora dos padrões, o grupo de jovens mulheres no microfone da rádio como apresentadoras e as inusitadas promoções.
Evidente, que houve vários tensionamentos.

Imaginem uma empresa tradicional, como era o Jornal O Fluminense, de uma hora para outra, receber na porta de sua sede centenas de pessoas e um entra e sai na sala sala da Direção do Jornal?
Entre os imbróglios, um dos mais marcante e tenso, foi a realização da festa de lançamento da Maldita na danceteria do hotel Sheraton, na Barra, no Rio. Houve lotação de público, confusão e prisões.

A Maldita foi a maior experiência de uma rádio única, experimental, explosiva, moderna, que se transformou numa máquina, num laboratório de lançamentos de grupos musicais, de artistas jovens do Rock, rompendo limites e paradigmas, com muita ousadia e talento, transgredindo numa época onde prevalecia a censura e a perversidade da ditadura militar. Uma das ousadias foi colocar só comentaristas mulheres.

Há muitas histórias a contar sobre a Rádio. Luis Antonio já detalhou sobre a Maldita, no livro de sua autoria “, A Onda Maldita” onde se expõe com toda alma, ele o pai da Maldita.

Luis Antonio Mello deixou a Rádio três anos depois. Seu sonho parecia desfeito assim como a expectativa de Ephrem de uma rádio de mercado.
Fui na premier do filme “Aumenta que É Rock `n Roll”, uma história da Maldita, de lá sai impactado, emocionado, na certeza de que os sonhos acontecem e como foi marcante, verdadeiro, com todos os atropelos, a criação da Maldita.

crédito fotográfico: imagem divulgação

Mario Sousa, jornalista e escritor