A jornalista Fátima Lacerda, homenageada do Fórum da Memória do Jornalismo Fluminense, mostrou-se quão visionária, combativa e como se posiciona até os dias atuais, sempre mostrando-se à frente do seu tempo. Há 50 anos na atividade jornalística, esta grande mulher, por onde passou, deixou sua marca como feminista, de esquerda e, sua luta pelo antirracismo, em prol do operariado, e na vanguarda ela mostrou, em pouco mais de uma hora, contínua, numa narrativa riquíssima de passagens pelo jornal de bairros O Globo Niterói e nos muitos Sindicatos, onde trabalhou, como uma jornalista combativa, investigativa e ética, deve agir e, dessa forma, lutar por um mundo mais igualitário onde o ser humano seja respeitado, seja profissional, mas principalmente pessoalmente.
Na 8ª Edição do Fórum da Memória do Jornalismo Fluminense, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro – SJPERJ-, no último dia 10 de setembro (terça-feira), uma plateia embevecida e admirada, num dos salões Solar do Jambeiro, ouviu a rica narrativa da jornalista Fátima Lacerda.
Durante sua narrativa, de pouco mais de uma hora ininterrupta, a jornalista, escritora, sindicalista pôde contar um pouco de sua trajetória pessoal e profissional, mostrando-se, reconhecidamente uma verdadeira lutadora pelos direitos da classe jornalística no Brasil e no mundo, uma lutadora contra o racismo que ainda vivemos nos dias atuais, sua luta também pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e também pelos operários, principalmente da área de petróleo, pois foi atuante em importantes Sindicatos do país afora, editando e escrevendo livros e variadas publicações sobre as atividades pelas classes mencionadas, ao longo dos anos.
Nos diversos livros que escreveu, inúmeras reportagens investigativas ela foi quem deu a partida para investigações seríssimas, ao publicar reportagens bem apuradas e investigadas, como por exemplo, o caso da bomba do Riocentro, quando ao entrevistar Rickson Grael, se viu diante de perseguições, mas nem diante de atribulações, nunca se deixou esmorecer, lutando atrás de uma máquina de escrever publicando reportagens que mexiam e remexiam num submundo cheio de mistérios, ela elocubrou questões importantíssimas que deflagraram grande escândalos envolvendo personalidades brasileiras que não tinham condutas tão ilibadas como deveriam.
Hoje, na ABI – Associação Brasileira de Imprensa-, Fátima luta, principalmente, contra o racismo e pela não tomada da instituição pela extrema centro-direita do país. Assim, ela continua sua luta, mostrando-se uma mulher sempre à frente do seu tempo, numa luta que é contínua pela igualdade de direitos na humanidade. E, dessa forma, criou filhas, tem netos e, acima de tudo, não deixa de lado sua luta contra o racismo.
Quem esteve presente na 8ª Edição do Fórum da Memória do Jornalismo Fluminense, testemunhou um depoimento histórico e vanguardista, após ouvir alguns momentos notáveis da jornalista, escritora, mãe, avó, trabalhadora, enfim da grande mulher e profissional, Fátima Lacerda.
Os depoimentos do Fórum da Memória do Jornalismo Fluminense serão transformados, em breve, num livro, numa parceria firmada verbalmente entre o SJPERJ e a Fundação de Arte de Niterói (FAN). O jornalista Mário Sousa, Presidente do SJPERJ, marcará para breve a 9ª Edição do Fórum, quando outro profissional será homenageado.
Uma síntese de sua vida profissional
Fatima Regina Lacerda é formada em Comunicação Social pela UFF com especialização em Raças e Etnias e Mestrado em Ciência Política, ambos também pela UFF. Despertou para o jornalismo na adolescência, editando um encarte para o Jornal da Tijuca(1972). Na universidade criou, ao lado de outros colegas um jornal mensal de cunho político-cultural e um de poemas: Mãos Dadas.
O primeiro estágio foi na Rádio Tupi, optando mais tarde pelo jornal impresso. /Trabalhou no jornal O Fluminense por cinco anos. Em Campos, contribuiu como repórter e redatora desde o primeiro número do jornal Folha da Manhã. No jornal O Globo, participou do lançamento dos jornais de bairro: Globo-Tijuca, Globo-Madureira e Globo Niterói, nos anos de 1980. Trabalhou, ainda na Tribuna da Imprensa (RJ) e no Diário Popular (SP), como repórter e redatora.
Por razões políticas e por sua atuação na área sindical, afastou-se da chamada “grande mídia” para ajudar a organizar a imprensa dos trabalhadores, na CUT-RJ, não só em assessorias de imprensa mas, sobretudo, na edição de boletins e jornais dos sindicatos dos Engenheiros, Trabalhadores da UFF, Crea-RJ, Petroleiros, Professores, dentre outros, além da Famerj. Ocupou cargos executivos na direção do Partido dos Trabalhadores (PT), tendo concorrido à vice-prefeitura de Niterói em 1988 e, mais tarde, à presidência do PT de Niterói.
Após a descoberta do pré-sal, em 2006, retorna ao Sindicato dos Petroleiros para participar da coordenação e estruturação de um novo momento da Campanha O Petróleo é Nosso. Para dar visibilidade a essas lutas foram criados uma web TV, uma rádio web e uma agência de notícia, instrumentos fundamentais não só na defesa do caráter e público e estatal da Petrobras mas também para a divulgação e apoio às lutas populares que se desenrolaram nas duas primeiras décadas deste século, no Estado do Rio de Janeiro.
A defesa dos trabalhadores e das causas populares e a prática de um jornalismo cada vez mais comprometido, a serviço dos mais necessitados, além do envolvimento com questões de gênero, com a luta antirracista, a defesa do meio ambiente e do patrimônio artístico e cultural marcam a sua atuação. Como esse foco, atuou também na coordenação e produção de livros e documentários.
Atualmente, dedica-se à escrita, para perpetuar as histórias das lutas dos trabalhadores nos últimos 50 anos, e integra o Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
“Minha geração cresceu na ditadura e teve como objetivo de vida o resgate da liberdade de expressão, a luta por direitos políticos, humanos e sociais. O jornalismo, tão logo os censores desocuparam as redações, era o nosso instrumento para alcançar esses sonhos. Então, havia o compromisso com a verdade mas também havia esse caráter militante pelo menos para mim. Trabalhávamos com esse espírito de resgate da cidadania fosse na grande mídia ou na impressa dos trabalhadores e movimentos sociais que se reerguiam. No meu caso, a carreira se dividiu em rádio e jornais comerciais: Rádio Tupi, O Globo, Folha da Manhã (Campos), Diário Popular , Tribuna da Imprensa e outras passagens e, nos últimos 30 anos _ foram mais de 50- voltada para a construção da imprensa dos trabalhadores, via CUT: professores, engenheiros, petroleiros, trabalhadores das universidades, além da Famerj.
Desde 2006, com a descoberta do pré-sal estive voltada para a organização da resistência contra a privatização da Petrobrás e de outras empresas públicas. Sindicato dos Petroleiros do RJ, participamos da construção de u.a agencia de notícias, radio e agencia de notícias, fundamentais no apoio às lutas sociais (indígenas, de gênero, por moradia, terra, em defesa do meio ambiente, antirracistas e culturais). O jornalismo livre e engajado é fundamental para a dignidade humana”, reflete Fatima Lacerda.