A Ditadura Militar era implacável contra os artistas e jornalistas, afirmou o jornalista, escritor e diretor de Teatro Mário Sousa, ao participar do Projeto “Trocas em Cena”, ao ser entrevistado por Gabriela Linhares, Coordenadora do Projeto. Bastante emocionado, o jornalista falou de sua trajetória, desde que chegou em Niterói há meio século vindo de Belém do Pará, como artista plástico e estudante de Teatro transferido da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará para o Conservatório de Teatro, hoje UniRio, no Rio.

Mário lembra que participou de salões de arte e era muito censurado pelos seus trabalhos. Na sua primeira experiência de teatro em Belém foi destacado como revelação de cenógrafo. No Rio, foi implacavelmente perseguido pela Ditadura quando dirigia a peça de Berthol Brecht, “Aquele que diz Sim, Aquele que diz Não”.

À convite de Paschoal Carlos Magno veio trabalhar na Comissão do IV Centenário de Niterói e com um grupo de colegas do Conservatório criou a companhia ECT – Expansão Cultura e Teatro, que foi considerado o grupo oficial de Teatro do IV Centenário. A Companhia se apresentou na Semana Santa, com uma peça religiosa, no Teatro Municipal. Na ocasião, Mário foi coordenador do Curso de Teatro, com todos professores do Conservatário, entre eles, Pernambuco de Oliveira, Orlando Macedo, Nelia Laport e Glorinha Bertemuller, que foi realizado no Sesc, com sucesso.

 

Mario Sousa

 

Mário lembra que sua passagem para o Jornalismo começa com um convite da jornalista Lou Pacheco, colunista o LIG e assessora também da Comissão do IV Centenário, que o convidou para fazer uma coluna de Teatro. Muito tempo depois fez o Curso de Jornalismo na Faculdade Hélio Alonso.

Na sua entrevista, Mário explica que sua vida no teatro nunca foi de uma linha reta de produções mas de ciclos de trabalhos. Para ele, uma das maiores experiências humanas que viveu no Teatro foi o trabalho que desenvolveu para moradores de rua no Centro de Recuperação de Itaipu. “Foram dias e dias de convivência com moradores de rua para que houvesse um diálogo e confiança. A cada passo fui descobrindo um ex-artista de circo, um músico, um poeta, um cantor de coral que pertencia a uma família conhecida na cidade. A maioria com dificuldades financeiras e alcóolatras. Após meses, começamos desenvolver técnicas de teatro e conseguimos produzir um espetáculo com que cada uma sabia fazer. O cantor do coral, quando falei que nós iríamos apresentar o trabalho no Teatro Leopoldo Fróes, pediu para não aparecer pois certamente, segundo ele, seria reconhecido por alguém da plateia e seria uma grande vergonha para ele.

No dia do espetáculo a TV Globo veio filmar e da coxia, ele percebeu e me perguntou se podia mudar a cena e ele aparecer. Mas você não me pediu para não aparecer?

– Por favor, sempre foi meu sonho cantar e aparecer numa Televisão. Não vou ter nenhuma oportunidade na vida para isso. Eu quero realizar este sonho. E assim foi feito. Sua voz era tão expressiva que a reportagem começou e terminou com ele cantando “Ave Maria”.

Sobre a Companhia de Teatro ETC lembrou de vários trabalhos apresentados em escolas e festivais e com a peça “Brincando de Brincar”: num festival nacional, em Arcozelo, pouco antes da apresentação Ana Caldeira, uma das atrizes, teve um torção no pé, mesmo assim, com muitas dores e descalça, se apresentou, dançou balé clássico, foi aplaudida e o espetáculo foi considerado o destaque do Festival.

Em sua trajetória, Mário lembra o curso que fez com Augusto Boal e depois, através de palestras, cursos, oficinas, em várias faculdades e colégios, desenvolveu o projeto Teatro sem Mistério, também desenvolvido com Simone Gomes, bailarina e professora de Expressão Corporal para professores da Rede municipal da cidade do Rio de Janeiro.

Com Simone Gomes , Mário destacou também o trabalho desenvolvido com idoso, no Clube Ideal, chancelado pelo Ministério da Previdência, que resultou num espetáculo.

Outro ciclo importante, segundo Mário Sousa, foi sua passagem como diretor e professor de Teatro na Faculdade Souza Marques, em Cascadura, na Zona Norte do Rio. “Uma experiência voltada para universitários de todas áreas, com produções de peças, apresentadas não só na faculdade mas nas comunidades, associações e festivais. “Foi uma experiência de muita reflexão pois em todas apresentações promovíamos debates com os estudantes e a plateia”.

O Jornalista e Diretor de Teatro lembrou também de sua passagem como Diretor da FAC, hoje FAN, relembrando dois projetos: O Sábado é dia de Criar, com transformação das escolas municipais em espaços culturais aos sábados, tendo como prioridade resgatar e mostrar as experiências artísticas da comunidade.

Outros trabalhos destacados por Mário foi sua participação como fundador da ATACEN- Associação dos Trabalhadores de Artes Cênicas de Niterói e da criação do Fórum de Artes Cênicas de Niterói, com Elyzio Falcato, Antonio Carlos De Caz e Lucia Cerrone.

Mário relembrou que naquela época, a censura era implacável, e até peças infantis tinham que ser feito um ensaio exclusivo para os censores definirem o que podia ser apresentado e sempre censuravam textos.