Mais de 2 mil jovens e seus familiares se reuniram na quadra da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), no sábado (dia 15/4), em busca de vagas no pré-vestibular social Dr. Luiz Gama. A aula inaugural é uma espécie de apresentação dos objetivos do programa e espaço para tirar dúvidas e incentivar a população de baixa renda a estudar e conseguir uma vaga nas universidades do Brasil.
O prefeito de Niterói, Axel Grael, participou da abertura do curso e contou a experiência que teve no projeto da família onde jovens achavam que a universidade não era uma realidade para eles.
“Estou muito orgulhoso de ver o trabalho desses voluntários que estão aqui se dedicando. Esse é um grande esforço para promover oportunidades através do pré-vestibular. Há 25 anos, eu e meus irmãos criamos o projeto Grael, que funciona lá em Jurujuba, e que trabalha exclusivamente com estudantes da rede pública dando oportunidade de iniciação nos esportes náuticos e fazendo a profissionalização desses jovens. Observamos, entre os nossos alunos, que fazer uma universidade não era uma expectativa, não era uma ambição daquelas pessoas. Eles achavam que aquilo não era pra eles, achavam que era muito difícil e que para alguém de origem pobre aquilo seria algo inalcançável. Eu me lembro que nós fizemos um programa interno tipo esse aqui de vocês e começamos a motivar as pessoas levando em universidade para conhecer laboratórios, entre outras coisas e o efeito daquilo foi muito grande, pois tivemos alguns alunos aprovados na universidade. O que está acontecendo aqui vai levar um número cada vez maior de pessoas que saem das comunidades para as universidades”, contou o prefeito.
Axel Grael ainda ressaltou que a Prefeitura de Niterói tem procurado auxiliar e abrir oportunidade aos jovens, através das políticas públicas, por meio de três áreas fundamentais para inclusão e ascensão social que é esporte, cultura e educação.
A secretária de Direitos Humanos e Cidadania de Niterói, Nadine Borges, esteve na aula inaugural e destacou que as pessoas precisam acreditar no próprio potencial.
“A gente nunca chega em lugar nenhum sozinho e acho que talvez esse seja o maior ensinamento que vocês podem tirar dessa aula de hoje, desse projeto que vocês estão fazendo aqui que é coletivo. A gente precisa de pessoas que confiem na gente e que apostem no nosso potencial e vocês estão aqui hoje por conta de professores que vocês tiveram que, desde criança, acreditaram em vocês. Então acreditem nessa turma, acreditem em vocês. Meu pai era semianalfabeto e ninguém da minha família fez faculdade. Eu e meus irmãos fomos os primeiros a concluir. Não desistam, isso aqui também dará fruto para as futuras gerações”.
Presente ao evento, o ex-deputado federal Alessandro Molon, ex-aluno da UFF, contou um pouco da sua história na universidade.
“Eu estou muito feliz e muito emocionado de estar aqui. Fui aluno da UFF, mesmo não tendo sido minha primeira opção porque antes eu tentei fazer Física e percebi que não tinha vocação. Então, como tinha passado e trancado o curso de história na UFF, resolvi tentar e me apaixonei. E resolvi fazer vestibular para história por conta de um professor negro que marcou minha vida na escola e que me fez acordar para a política, Mauro Paixão. E foi a minha experiência no Campus do Gragoatá que mudou minha vida. Eu nunca tinha pensado em me meter com política, ninguém na minha família nunca tinha mexido com isso. Esse não era um assunto da minha casa e eu vim aqui para estudar história e todo mundo sabia tudo de política e eu não sabia nada, mas eu comecei a me interessar e fui participar da disputa do Centro Acadêmico de História. Esse foi meu primeiro debate, onde representei a chapa, e foi minha primeira eleição”.
O ex-deputado conta que, depois de formado, foi lecionar em escolas da rede pública e resolveu questionar seus alunos, da antiga 8º série, sobre o que queriam fazer de vestibular.
“Ainda faltava o Ensino Médio, mas eu queria perguntar isso para estimular. No fundo era para saber qual é o seu sonho? E um dia teve uma aluna que me deu uma resposta que também marcou a minha vida e também é por causa dela que eu estou aqui hoje. Ela lá no fundo da sala falou assim “professor, isso não é para a gente não. Vestibular é para o pessoal de colégios particulares tradicionais, nós aqui vamos fazer outras coisas” e isso veio como um soco no meu estômago e eu entendi perfeitamente o que ela tava querendo dizer. Ela estava querendo denunciar a profunda desigualdade que o Brasil ainda é. E vocês estão aqui para furar esse sistema”, disse Molon.
Um dos coordenadores do Pré-Vestibular Social Dr. Luiz da Gama e do Coletivo Direito Popular, Matheus Guarino de Almeida, explicou os objetivos do programa.
“A gente começou em agosto de 2018 e no ano passado a gente atendeu mil alunos aqui na faculdade de Direito. Hoje, já passamos de 2500 inscritos. Temos dois grandes objetivos. Primeiro é popularizar a universidade. A gente entende que a universidade pública, em especial cursos como Direito e Medicina, tem sido o ambiente das elites, e a nossa ideia é que quanto mais gente da periferia, quanto mais gente do povo entrar, mais isso aqui vai ter uma cara de fato do que é a população brasileira. Em segundo lugar, a gente acredita que o pré-vestibular também é um lugar de formação crítica. Então, tanto para os educadores que trabalham aqui quanto para os estudantes, isso aqui é um lugar de organização social, de movimento social e de formação crítica para tentar transformar a realidade que a gente vive”, contou Matheus.
A aula inaugural reuniu mais de 2 mil estudantes, familiares, professores e voluntários, além do ex-diretor da Faculdade de Direito da UFF, Wilson Madeira, e do Frei Davi Santos que é um dos braços do pré-vestibular social.
Crédito fotográfico: Luciana Carneiro