Os desfiles das escolas de samba de Niterói sempre se destacaram na Avenida Amaral Peixoto, com arquibancadas, camarotes, decoração e cobrança de ingressos. Moreira Franco, ex-prefeito, resolveu levar o carnaval para onde, atualmente, é o Caminho Niemeyer, aprovando a montagem de um sambódromo, conhecida como a Passarela do Samba. Pela primeira vez, parte da sociedade niteroiense prestigiou o desfile. O planejamento foi da Enitur (hoje Neltur), que trouxe turistas dos hotéis do Rio de Janeiro diretamente para os camarotes, através de vans. Na ocasião, o desfile foi transmitido ao vivo pela TVE. O escritor Jorge Amado, em sua passagem por Niterói, na própria arquibancada, onde foi homenageado, deixou gravado que “Niterói tem o segundo melhor carnaval e o mais autêntico do Brasil”. Foi um desfile exitoso.
Eram outros tempos! Na cidade, também acontecia o Baile de Gala do carnaval, no Canto do Rio, onde ocorria a coroação da Rainha do Carnaval. Não havia disputa, uma atriz era convidada para ser a Rainha, entre outras, destaco as atrizes Claudia Raia e Cássia Kiss.
O último desfile de Moreira Franco na Passarela do Samba foi em 1981. O Prefeito Waldenir de Bragança transformou o local na Vila Olímpica e depois Jorge Roberto criou o Caminho Niemeyer. O carnaval retornou para a Av. Amaral Peixoto e depois foi para a Rua da Conceição.
Tempos e tempos! O presidente da Associação das Escolas de Samba de Niterói era Adalberto Beyrute, que, com sua personalidade forte, levantava o carnaval da cidade. Haviam momentos tensos e inusitados no carnaval. Numa apuração na quadra do Caio Martins, o ex-vereador e policial Castrinho, de revólver em punho, pulou no palco, arrancou uma mapa da minha mão e ameaçou matar o presidente da Enitur, Magno Amarante, na época. Em segundos, o presidente desapareceu. Gritos, correria e guardas municipais tentaram segurar o policial, que foi levado para fora do estádio. Minutos depois, sem tiro, peguei o mapa rasgado e continuei com a apuração.
Outro fato ocorreu em plena Avenida Amaral Peixoto. Uma conhecida atriz global, já falecida, (por isso não revelo o nome), jurada do desfile, ao receber o jantar em sua cabine, gritou: “Eu não como esta porcaria” e jogou tudo na avenida. Coisas do carnaval.
Além da imprensa local e a grande mídia, tudo era registrado na revista Desfile, que saia uma vez por ano, com toda programação do carnaval, editada com muito esforço por Jayme Teotônio, com Sidney Lobo e na redação, a jornalista Selma Araujo.
No retorno à Avenida Amaral Peixoto ainda ocorreram desfiles. Depois o carnaval foi diminuindo e empobrecendo na Rua da Conceição. Parecia que o desfile oficial acabaria de vez, quando dois vereadores resolveram lutar e reativar o desfile das escolas de samba: Carlos Magaldi e Paulo Bagueira. Com a morte de Magaldi, a luta continuou com Bagueira.
Nos últimos anos, as mudanças começaram a aparecer, inclusive com as três escolas Sossego, Cubango e Viradouro se destacando no Sambódromo do Rio de Janeiro. A Viradouro se superou e foi duas vezes a campeã . Sem politizar esta nova configuração do carnaval de Niterói, o apoio do ex- prefeito Rodrigo Neves foi fundamental.
Nos últimos anos, a Prefeitura de Niterói, através da Neltur, da Comissão do Carnaval, em diálogo com as ligas, vem aperfeiçoando o carnaval de bairros, de ruas, o desfile oficial e apoiando as três escolas que desfilam no sambódromo do Rio de Janeiro: Viradouro, Cubango e Sossego.
O Carnaval no Brasil é um dos principais eventos do mercado do Turismo. A cidade do Rio de Janeiro sempre foi o chamariz para o mundo. Em Niterói, como já disse Jorge Amado, aqui se faz o mais autêntico carnaval do País.
No entanto, há dois anos tudo mudou por causa da Covid 19. Ano passado não houve desfile na Rua da Conceição. Este ano, o prefeito Axel Grael, com aval da Comissão de Saúde, transferiu para abril o evento e decidiu transferir o desfile para o Caminho Niemeyer, atendendo as ligas que são as responsáveis pelo desfile, num retorno ao local do primeiro “sambódromo” do Brasil há 41 anos.
A transferência da Rua da Conceição para o Caminho Niemeyer muda todo o planejamento e estrutura, mas pode ser o caminho para um local definitivo do desfile oficial das escolas de samba de Niterói.
Alegria e disposição não faltam, apesar da pandemia!
Mário Sousa
Jornalista & escritor
