A EUFORIA DA IGNORÂNCIA
“Quando um não quer, dois não brigam”, certo? E quando todos querem? O que acontece?
Em verdade, esse “clima de guerra” que vivemos no país, a partir da polarização e do radicalismo dos posicionamentos e discursos não é nenhuma novidade.
Pelo contrário, é algo tão velho, que remonta a Roma antiga, diretamente, à “política de pão e circo”.
À época, o Imperador distribuía comida para a plebe que ocupava as arquibancadas, enquanto assistia e delirava com os duelos mortais na suntuosa arena. Que carrega também em suas históricas paredes, as marcas da perseguição aos cristãos.
Sim, naquele tempo, os romanos não toleravam o pensamento do cristianismo.
E, justamente, dessa intolerância, surge sua popularidade e fortalecimento. Já estão conseguindo fazer alguma conexão?
Pois bem, vou ajudar… rs.
Quem ascende ao poder? Justamente os cristãos, que passam também a perseguir qualquer um que se opusesse aos seus dogmas.
Muitas condenações por heresia, decapitações, enforcamentos públicos e fogueiras santas depois, vamos acelerar bastante até chegarmos aos Séculos XX e XXI…
Evoluímos, temos vários pensamentos difundidos e já percebemos discursos contra o fundamentalismo religioso, a centralização do poder pelo Estado e as defesas de muitas bandeiras, outrora condenadas.
Por aqui, no Brasil, vivemos o auge desse momento, dos anos 90 até a última eleição, que marca mais uma volta no tempo e nos prova que o direcionamento político é cíclico.
Agora, novamente, temos um movimento fundamentalista e religioso, que se não é totalmente intolerante, simpático também não é, a algumas situações que já não são mais causas e/ou bandeiras e sim, realidades, presentes no nosso cotidiano e que precisam ser respeitadas.
O “povo” gosta de “ver o circo pegar fogo”.
Sempre gostou. Por isso, não me causa qualquer estranheza, que discursos mal educados, carregados de raiva e totalmente inapropriados façam uma certa parcela da população “delirar”. É histórico…
Principalmente num país de nível cultural baixo e com a educação totalmente sucateada, o surgimento de heróis do povo ou mitos, é facilitado.
Com seus discursos fantasiosos, os ludibriosos Arautos da Justiça, aproveitam-se da “ignorância popular”, para criar uma falsa esperança, através da terceirização de culpas, apontamentos de problemas e claro, da distribuição de migalhas.
Segmentam cada vez mais a sociedade, que como antigamente, se divide nos brutais duelos e pior, anestesiada pela euforia da ignorância, ainda paga pelos restos jogados.
Chegamos ao início do artigo? Como disse, cíclico…
Rafael Caldeira e Sousa é jornalista.